segunda-feira, junho 21, 2010

Segundo Sexo - S. de Beauvoir

Trecho extraído do livro Tête-à-Tête (Hazel Rowley)


“A pessoa não nasce mulher, mas antes torna-se mulher”. Esta seria a frase mais famosa de O Segundo Sexo. Como existencialista, Beauvoir não acreditava na “natureza humana”. Seu argumento era que a “feminilidade” é um construto social. A Biologia não tinha resposta para a pergunta: Por que a mulher é o Outro?

Sua tese central era que em todas as culturas, mesmo as ditas matriarcais, o homem era considerado o Sujeito, e a mulher, o Outro. Ela explorava os dados da psicologia, da psicanálise, da história e da teoria marxista e não encontrava um motivo satisfatório sobre isso. Sua conclusão era que a alteridade é uma categoria fundamental do pensamento humano. Nenhum grupo pode se estabelecer como o primeiro, sem estabelecer outro grupo como o Outro.

(...). Uma vez que sua estrutura era existencialista, seu critério era a liberdade.Sua premissa era que fim último de qualquer sujeito humano responsável deveria ser a “soberania”. Mas isso era complicado. Se uma mulher não era livre, de duas, uma, ou sua falta de liberdade era infligida, e nesse caso constituída uma opressão; ou era escolhida, e nesse caso representava uma falha moral. Em ambos os casos era um mal absoluto.

Como Satre, ela afirmava que a liberdade exige coragem moral. É mais fácil a pessoa desistir de sua liberdade e tornar-se uma coisa. Como Beauvoir deixou claro, as mulheres podiam obter vantagens bajulando os homens, vivendo através deles, sendo sustentadas por eles. “É um caminho fácil: nele se evita a tensão envolvida em assumir uma autêntica existência”.


Vários capítulos de O Segundo Sexo (A Narcisista, A Mulher Apaixonada, A Mística) demonstram as diversas formas escolhidas pelas mulheres para evitar sua liberdade. Mas se o Segundo Sexo é disparado com ambivalência, é porque Beauvoir mostra que a própria liberdade é cheia de obstáculos intransponíveis para as mulheres. A sociedade ainda não estava pronta para a mulher livre.

Um dos melhores capítulos do livro, sem dúvida é a “A Mulher Independente”, em que Beauvoir fala veladamente de si mesma. Ela resume assim o problema central:

A Vantagem do homem (...) é que sua vocação como ser humano não vai contra seu destino como homem em nenhum aspecto (...) Seus sucessos pessoais e espirituais lhe dão um prestigio viril. Ele não é dividido. Ao passo que se exige da mulher que, para realizar sua feminilidade, ela se torne objeto e presa, o que vale dizer que tem que renunciar suas reivindicações como um sujeito soberano.

Em outras palavras, seja ela um sujeito soberano ou um objeto sem liberdade, a mulher não pode vencer. Como Beauvoir a retrata, a mulher independente sofre de complexo de inferioridade quanto à “feminilidade”. Ela vê que sua inteligência e sua independência intimidam o homem. Sabe que, se conduzir a vida sexual com muita liberdade, será vista, de forma humilhante como “fácil”. E está bastante consciente de que, quando se trata de envelhecimento, a sociedade tem dois pesos e duas medidas.

Beauvoir conhecia muitas mulheres que viviam através dos homens, que impunham o fardo de sua existência a um deles. Ela mesma conhece a tentação. Também conhecia o preço da independência. De fato, como mostra de forma pungente O Segundo Sexo, a mulher independente estava fadada a sentir-se dividida.



Fala sério... O Segundo Sexo foi lançado em 1949

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