sexta-feira, julho 23, 2010

Artigo - Fazendo contato

Por Patricia Fox


Em conversas com as mais diferentes pessoas uma das questões mais levantadas é: como em um momento de tanta facilidade em se comunicar, nos sentimos cada vez mais sozinhos?


Frequentamos lugares muito mais movimentados, temos inúmeras atividades diárias envolvendo grupos, mas mesmo assim há a sensação de falta. Falta de contato, falta de comunicação, falta de calor, falta de espírito.


Mas o que o espírito tem a ver com a necessidade de contato?


Tudo...


Espírito, espiral, fogo, calor... todas as palavras levam aos mesmo princípio. Centro, foco! Acessar o próprio espírito nos dá a capacidade de nos tocarmos, de nos conectarmos ao nosso calor interior e à voz
do nosso coração. Talvez somente dessa forma seremos capazes de perder o medo
de nós mesmos e assim sermos capazes de nos conectarmos aos outros, de verdade
e com verdade.


Através desse raciocínio podemos nos perguntar: será que mais do que estarmos sedentos de contato com o outro, não estaremos na realidade sentindo falta de nós mesmos? Numa das melhores falas da peça “A Alma Imoral”, Clarisse Niskier diz: “Haverá maior
solidão que a ausência de si?”


Mas como ter essa intimidade consigo? Explorando o universo interno. Ouvindo, pacientemente, sem pressa, sem julgar. Dificil? Talvez sim, no início... Vivemos em constante aprendizado e essa lição, lidar com nosso universo
interior, é uma das mais complexas e que
levará a vida inteira... Ainda bem!


Penso que quando fazemos essas perguntas à nós mesmos talvez já se está onde se deve estar. O questionamento e a disposição para mudança são ferramentas valiosas no caminho e isso já é uma decorrência de que as máscaras ou estão caindo ou não servem mais (dá na mesma). Isso acontece quando
o que pensávamos ser deixa de fazer sentido. As garras que prendem essas máscaras
se enfraquecem com as “perguntas certas”, parafraseando Clarissa Pinkola Estés (nossa
quantas Clarissas e Clarisses geniais, não? E eu ainda nem citei a Lispector!).


Podemos começar com a seguinte pergunta: “O que deve morrer hoje para gerar mais vida?”


Esse movimento de “desfolhamento” é mais passivo que ativo, e quero dizer com “ativo” algo que mais atrapalha no desenvolvimento emocional – o controle! Ora, é a própria vida e natureza que se ocupam do
processo de desfolha. Complicado? Olhe pra uma árvore e você saberá do que eu
estou falando.


Nada na natureza “É”... tudo “ESTÁ”. Não somos algo, estamos em constante e eterno movimento vida-morte-vida, ou seja, estamos mais do que somos... Ser ou não ser, eis a questão?
Perguntinha que não terá uma resposta lógica nunca ou está ai o tempo
todo, mas que passa tão rápido que você
não consegue “pegar”, só vivenciar o efêmero que o momento contém.


No coração mora nossa essência e ele é puro movimento. Um tambor incessante, uma força que não controlamos, simplesmente flui e quando resolvermos não respeitar esse
movimento, seja por violência física (péssima alimentação, por exemplo) ou
emocional (rigidez, mágoa), ai sim teremos problemas.
A cada inspiração esse coração faz contato com o externo, o mundo que escolhemos
acessar e a cada expiração damos ao mundo um pouco de nós mesmos, alimentamos o
universo com essa espécie de morte, com esse ar que “expira” a validade que deve
ficar dentro de nós.


Essa é a noção de conexão de micro e macro também, do “ser/estar” e do “Grande Ser/Estar”, da célula e do corpo.


Se deixarmos de respirar, deixamos de alimentar e de sermos alimentados, saímos da rede “vida-morte-vida” e nos tornamos estagnados, estéreis, sem integração, sem conexão, mortos no sentido equivocado e pequeno da morte.
Morte para alguns está ligado com fim, mas esse fim não existe, é pura
ilusão. Quantas pessoas na busca da estabilidade estão mais “mortas” do que
vivas, porque justamente negam que algumas coisas precisam morrer?


A morte é tão sagrada quanto a vida. A vida está cheia de mortes e toda morte gera uma nova vida tanto no sentido metafísico quanto no material. Simples assim. O motivo de tanta negação da morte? Falta de contato,
de conexão... ai entramos em outra questão:
Luz e sombra!


Opostos que se complementam ou ainda duas partes de uma mesma parte que foi repartida?


Bom, tantas palavras e questões para voltarmos ao início da conversa.


Por sentimos tanta falta do contato?


Antes de buscar tanto fora, tente compreender o que está ai dentro. Tente se ver como UMA PARTE que contém várias facetas, tudo o que você precisa. O passo seguinte, ou ainda paralelo, é aproveitar o contato com seres
(não falo somente de humanos) que estejam na busca de si também, mesmo que
muitas vezes possam aparentar serem muito diferentes de você. Projetar no
outro o que você não consegue acessar em você, pode ser um caminho, mas
normalmente não aproxima, pelo contrário, afasta. Tenha a coragem que enfrentar a ausência do outro
para se encontrar com você. Tenho certeza de que dessa forma, quando você tocar
ou for tocada, a sensação não será de complemento, mas sim de compartilhar!


Boa jornada!

Patricia Fox - Graduanda em Filosofia e especialista em Espiritualidade Feminina.

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